MADAME K. E AS FEMINISTAS
Com base numa das crônicas da famosa série "A Caminho do Fundão" que meu professor Godofredo de Oliveira Neto costumava postar em seu mural no Facebook, que transcrevo abaixo, elaborei uma análise e teci comentários sobre ela. Adoro ler suas crônicas pois elas sempre me inspiravam a escrever outro texto, tendo por mote alguns elementos presentes nelas. Sempre foi para mim uma tarefa prazerosa comentar e desenvolver resenhas críticas sobre elas, visto que ele, como escritor tarimbado que é, conseguia condensar em poucos parágrafos toda sua erudição e conhecimento profundo de grandes figuras literárias. E ele é dono de um humor irônico, fino e inteligente, que capta bem todas as nuances da situação que descreve.

Publicado em 03/03/2018.
Madame K. e Marguerite Duras, feministas. O Campus da UFRJ, coberto durante seis dias por luz cinza, esverdeou nesta sexta.
Madame K. começou com uma palavra forte, que reproduzo em respeito à verdade e à personagem: estou sendo corneada. Logo você, a tarântula matadora de machos pós-coito, retruquei. Mato-os pelo olvido, esse esquecê-los de repente é minha perversão e minha perfídia. Talvez eu seja grosseira, ok, mas sou assim É uma jovem de 19 anos, ela continuou. Ele vai acabar voltando, eu sei, então o perdoarei e no dia seguinte lhe conto que - super pena - estou envolvida com outro há várias semanas e perdidamente apaixonada. As núpcias taciturnas da vida vazia com o objeto indescritível. Lacan foi por essa linha ao dissertar sobre a obra de Marguerite Duras.
Duras criticava fortemente as ideias de Simone de Beauvoir , para ela apenas macaqueavam valores masculinos- da estética à visão machista das coisas e do mundo. Nem a frivolidade, óbvio, tampouco a imitação das normas injustas e fascistas masculinas.O primeiro ponto seria estabelecer uma relação nova com a língua produto social a serviço de valores masculinos. Preencher um vazio, não o vazio do poder e dos micro-poderes, exaltar o " escrever-mulher". Essa diferença Duras afirmava, sim, mas, em ato masoquista, recusava fosse essa diferença aceita pela sociedade. Duras era alcoólatra e tinha acessos de fúria, consta. Madame K. não, é verdade. Ao eu dizer " é mais produtiva e prática a proposta da Simone" o caldo entornou.. Pra quê! Madame K. deu um berro -alunos às voltas com gordos sanduíches no trailer olharam, amedrontados - e me ameaçou com a mão espalmada. Saiu às pressas, nem pagou o refrigerante, ainda lhe gritei Fora Temer, mas nem assim ela se virou.Que coisa !
E, claro, pelo menos para mim, existem dois livros cuja leitura é fundamental para conhecermos bem a vida e a obra de Simone de Beauvoir. Toda essa discussão do Godredo nessa crônica referindo-se ao feminismo e o embate entre a visão de Simone de Beauvoir e Marguerite Duras pode ser compreendida se estdarmos obras dessas duas personalidades históricas. E o melhor é começarmos por ler a mais emblemática obra de Simone. Os dois volumes do livro "O Segundo Sexo".

Podemos ler e/ou baixar diretamente aqui:
1) O Segundo Sexo - Volume 1 - A Experiência Vivida
2) O Segundo Sexo - Volume 2 - Mitos e Verdades
3) O impacto da obra de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre no pensamento moderno é inestimável, mas o casal de escritores-filósofos-existencialistas é lembrado igualmente pela vida que levou. Ambos eram brilhantes, corajosos, indivíduos profundamente inovadores. Este livro mostra a paixão, energia, audácia, humor e contradições de seu notável e pouco-ortodoxo relacionamento. Mostra também, sobretudo, como a coragem e o brilho intelectual de Sartre e Beauvoir influenciaram de forma determinante o pensamento da época em que viveram. Em "Tête-à-Tête", a biógrafa Hazel Rowley nos oferece o primeiro retrato duplo dessas duas figuras colossais e sua intensa e turbulenta relação. Através de entrevistas originais e acesso a material inédito, Rowley os retrata de perto, em seus momentos mais íntimos e ainda conta pelo menos 28 casos extraconjugais do casal.
Vale ressaltar aqui que Marguerite Duras (1914-1996) já teve uma obra transportada para as telas de cinema de um de seus mais conhecidos Romances : " O Amante". Ele é considerado o seu livro mais autobiográfico .
"OAmante", escrito em 1984, recebeu o Prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa e se consagrou como sua obra mais célebre. O romance e narra um episódio da adolescência de Duras: sua iniciação sexual, aos quinze anos e meio, com um chinês rico de Saigon. Se as personagens e fatos são verídicos, a escrita os transfigura e transcende; não sabemos em que medida a história é verdadeira. Os encontros amorosos são, ao mesmo tempo, intensamente prazerosos e infinitamente tristes; a vida da família contrapõe amor e ódio, miséria material e riqueza afetiva. A presença da mãe, sua desgraça financeira e moral, do irmão mais velho, drogado, cruel e venal, e do irmão mais novo, frágil e oprimido, constituem uma existência predominantemente triste, e por vezes trágica, de onde Duras extrai um esplendor artístico que se reflete em sua própria pessoa - personagem enigmática, quase de ficção. Tem sido dito que ler este livro é como folhear um álbum de fotografias - a narrativa se desenrola em torno de uma série de imagens fascinantes.
Duras, para surpresa de muitos, também foi cineasta. E realizou um trabalho primoroso com as imagens o que pode ser verificado nos mais de vinte filmes que foram dirigidos por ela e na facilidade com que seus textos se transformarem em filmes, como o fez Jean-Jacques Annaud com "O amante" em 1991. Um trecho desse filme, a cena final, com legenda em francês, pode ser assistido aqui. A fotografia é belíssima.



