RELATOS

A autora, com 24 anos, em 1980, sentada no colo da colega engenheira-química e grande amiga Maria de Lourdes, quando se tornou a primeira engenheira-química surda profunda a ser contratada para trabalhar no atualmente extinto Laboratório da empresa de Telecomunicações do Rio de Janeiro (1980). Dez anos depois, devido ao seu talento em informática, foi indicada pelo presidente Nelson Souto Jorge a trabalhar no Depto de Informática da mesma empresa como analista de sistemas e instrutora, onde criou um aplicativo batizado de TEQMASP que foi patenteado pela empresa para controle de qualidade de materiais. Esse aplicativo forneceu uma forma eficiente de combate ao desperdício e controle de orçamento na compra desses materiais.
DE LITERATURA BRASILEIRA
Se não fosse o incentivo dela eu não teria aguentado mesmo, confesso. No começo me deixavam na mesa do laboratório e não me chamavam pra nada. Eu ficava isolada, me sentia só e chorava no banheiro quase todos os dias no inicio. E não sabia mais o que fazer. E nessas horas amargas aproveitava para ler muito e já que ninguém me dava bola, fugia para a biblioteca da empresa e ficava lá estudando sozinha. Foi então que minha sorte começou a mudar.

Eu e Dr. Arras, que se tornou um grande amigo, incentivador e que mudou os rumos da minha carreira na TELERJ.
Mas aí o tempo foi passando e no fim de um ano , graças à intervenção de um grande amigo, o Prof. Simon Rodrigues Arras Acebal (O SENHOR QUE APARECE COMIGO NA FOTO), que veio a se tornar meu chefe direto, um grande professor e engenheiro-químico, foi que meus colegas começaram a me pedir serviço e confiar na minha capacidade. E verem que a surdez não afetava meu desempenho profissional.
O tempo passou, as pessoas perceberam que o preconceito por causa da minha surdez uma coisa muito feia e passaram a me compreender melhor como ser humano e entender que isso não me incapacitava a pensar e tomar decisões profissionais corretas. Aí tudo mudou.
Tenho orgulho de olhar para trás e ver que todos os colegas, no final, haviam se tornado meus amigos. Na minha festa de despedida, quando me desliguei da empresa para seguir minha nova carreira de funcionária pública concursada (passei em terceiro lugar) do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e professora universitária dos cursos de Letras e Análise de Sistemas na Estácio, chorei com o discurso lindissimo que a minha chefe na época fez para mim, relembrando meu inicio lá. Foi um baita aprendizado, sai desse emprego cascuda e pronta para qualquer outro desafio que viesse.
Hoje estou aposentada e com um novo desafio : terminar o doutorado que tive que interromper por motivo de saúde. E enfrentar a batalha de concorrer com pessoas até mais novas do que eu. Mas sei que mais uma vez sairei vitoriosa. Pois quem já atravessou o inferno não pode temer mais nada, não é mesmo queridas alunas ? Tenho a meu favor a maturidade e uma longa experiência profissional.Espero encontrar algum dia vcs todas, queridas alunas, lá na UFRJ daqui a 4 anos . A UFRJ é , de fato, uma das melhores universidades do país e torço para que vcs a frequentem como eu fiz. E se isso não se concretizar estarei feliz do mesmo jeito. Pois ajudarei a cada uma de vocês a chegar lá. Estamos aqui nesse mundo para servir. Encaro o futuro agora sem medo e certa de que toda essa estrada percorrida serviu de base para o que enfrentarei agora. Que venham os desafios !